Custo de produção safra 2023/2024: qual a melhor época para comprar fertilizantes?
A safra agrícola 2023/24 se aproxima. Para quem se prepara para os cultivos de inverno, o momento é de planejamento para tomada de decisão, sobretudo com relação ao que plantar, onde plantar e quanto plantar. Por isso, o produtor não pode descuidar de todos os fatores que envolvem a produção agrícola e, dentre eles, estar atento aos custos de produção.
Nos últimos meses, presenciamos a grande valorização das matérias-primas que compõem fertilizantes e adubos, sobretudo a partir do início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Atualmente, o Brasil importa mais de 80% da matéria-prima para a fabricação de fertilizantes. A guerra desencadeou um clima de insegurança e instabilidade nos principais países produtores e exportadores de produtos agropecuários, com destaque para o setor de produção de grãos.
Sistematicamente, a Epagri/Cepa realiza o levantamento estadual dos principais insumos e serviços comercializados em Santa Catarina, esse levantamento é realizado em três períodos ao longo do ano, nos meses de abril, julho e outubro. Um dos resultados desse levantamento é a possibilidade do cálculo do custo de produção referencial para as principais culturas exploradas no Estado.
Analisando o comportamento dos custos de produção da cultura do trigo, por exemplo, chegamos a um valor médio estadual que serve como elemento para uma análise comparativa com os custos reais de cada produtor. A partir de outubro de 2020, os preços dos fertilizantes tomaram uma trajetória ascendente. Entre outubro de 2020 e de 2022, os preços do cloreto de potássio e do superfosfato triplo aumentaram 185% e 153%, respectivamente. Já os preços da saca de trigo, no mesmo período, valorizou 45%. Com isso é fácil perceber que o custo de produção do trigo subiu muito mais do que o preço pago pela commodity. Com margens cada vez mais retraídas, a adoção de controle de custos de produção e estratégias de gestão passam a ser cada vez mais fundamentais (Gráfico 1).
Gráfico 1: Evolução do preço do trigo e três fertilizantes em Santa Catarina – abr./2019 a out./2022.
Fonte: Epagri/Cepa, 2023.
A partir de 2020, é possível verificar um aumento nominal do custo de produção médio anual. Para a cultura do trigo a variação entre 2019 e 2020 foi de 10%, mas quando comparamos 2020 com 2021, percebemos a disparada no aumento do custo, que chegou a 56%, puxado fundamentalmente pela elevação dos custos com fertilizantes. Em termos monetários, o custo operacional efetivo médio dos produtores de trigo, em 2022, ficou em R$ 6.501/ha, enquanto que em 2021 os custos médios ficaram em torno de R$ 5.570/ha (Gráfico 2).
Outra questão fundamental, a ser analisada, é a evolução da relação de troca entre preços de produtos agrícolas e os preços de insumos. Para exemplificar melhor essa situação, em abril de 2022, para a compra de uma saca de 50 kg de uréia, produtores catarinenses precisaram desembolsar o valor equivalente a 2,96 sacas de 60 kg de trigo, contra 1,96 sacas em abril de 2021. Ou seja, houve um crescimento no custo de 51% no período. É difícil prever como se dará esse comportamento para a próxima safra.
Gráfico 2: Custo operacional efetivo (COE) do trigo em Santa Catarina – abr./2019 a out./2022.
Fonte: Epagri/Cepa, 2023.
Nesse sentido, saber em qual época do ano devem ser feitas as aquisições de fertilizantes passa a ser uma informação estratégica para a tomada de decisão do produtor rural. Como a maioria dos fertilizantes, quando armazenados adequadamente, têm suas características físicas e químicas totalmente preservadas, sua aquisição independe da época agronômica para sua utilização, quando devem ser realizadas as adubações de plantio, reposição e cobertura.
Nos últimos quatro anos, o custo operacional efetivo médio, dentro da expectativa de um comportamento sazonal, apresentou os menores valores nominais no primeiro quadrimestre do ano. Com isso, podemos concluir que esse período se constitui num bom momento para a aquisição de fertilizantes. No primeiro quadrimestre, podemos constatar que há uma menor demanda de insumos, quando comparado aos outros dois quadrimestres de cada ano da série analisada. Na média dos últimos quatro anos, apenas 24% dos fertilizantes comercializados foi demandado no primeiro quadrimestre, contra 38% para cada um dos outros dois quadrimestres (Gráfico 3).
Gráfico 3: Sazonalidade da demanda de fertilizantes – 2019 a 2022.
Fonte: Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), 2023.
Outro componente que normalmente encarece os custos com fertilizantes, relacionado a questões de logística, é o custo com transporte (fretes). Logo após o término das colheitas das safras de inverno e verão (normalmente no primeiro quadrimestre) intensifica-se o escoamento da produção rumo aos portos e armazéns. Com isso, caminhões e vagões de trem e cargas “vão” com grãos e “voltam” com fertilizantes e outros insumos necessários para a produção agropecuária. Com isso, esse “vai e vem” de produção/insumos reduz o custo de frete e, consequentemente, melhora a margem do produtor.
Outra questão é a liberação do crédito rural por instituições financeira oficias (Branco do Brasil), que se dá, de maneira mais intensa, a partir do início do ano agrícola (julho). Esses agricultores, normalmente, dependem da liberação desses recursos para contraírem empréstimos bancários para o custeio de suas lavouras. Nos últimos nove anos, segundo dados do Banco Central (BACEN), o volume percentual de recursos liberados no primeiro quadrimestre foi de cerca de 20%, enquanto que no segundo e terceiro quadrimestres foram de 45% e 35%, respectivamente.
Como a demanda por fertilizantes é menor do primeiro quadrimestre, pela menor disponibilidade de recursos financeiros, os preços dos insumos tendem a ser menores. Já a partir do segundo quadrimestre, com o anúncio do volume de recursos a serem liberados pelo Plano Safra do Governo Federal, há uma maior disponibilidade de recursos financeiros circulando no mercado. Essa sazonalidade é muito bem conhecida pelos agentes do mercado. Com o aumento da procura por fertilizantes, os preços normalmente se elevam a partir do segundo quadrimestre.
Assim, em tempos de crise sanitária, guerra entre países exportadores de fertilizantes e valorização mundial de commodities, o princípio da precaução deve prevalecer. Nesse sentido, o produtor rural, na gestão do seu negócio, pode buscar minimizar os riscos com compras parceladas de insumos ao longo do ano. É importante estar atento às mudanças do mercado agropecuário, analisar dados e informações estratégicas são questões fundamentais para a tomada de decisão. Em um mercado tão dinâmico e valorizado, planejamento é a palavra-chave.
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