O El Niño e a safra catarinense de grãos 2023/2024
Com a chegada do final do ano de 2023, podemos fazer um breve balanço do comportamento do mercado do agro catarinense, assim como vislumbrar como será a próxima safra. A economia brasileira mostra sinais de recuperação, a taxa Selic, taxa básica de juros da economia, que influencia outras taxas de juros do país, como nos empréstimos e aplicações financeiras, recuou 14,6% em dezembro de 2023, na comparação com dezembro de 2022. Nosso PIB em 2023 deverá crescer em torno de 3,1%, o câmbio está abaixo de R$ 5,00 por dólar e a inflação (IPCA) dos últimos 12 meses encontra-se em 4,7%. Esses números são bastante positivos quando comparados às expectativas iniciais.
No mercado agrícola catarinense, observou-se alguns recuos nos preços recebidos pelos produtores rurais. Na comparação com as cotações de dezembro de 2022, os preços médios estaduais da saca de soja, na primeira quinzena de dezembro de 2023, apresentaram redução de 22,9%, passando de R$ 171,92 para R$ 132,58 por saca; o preço do milho recuou 31,1%, passando de R$ 84,24 para R$ 58,04 por saca e o trigo teve queda anual de 30,3%, passando de R$ 90,43 para R$ 63,03 por saca. Esses produtos são commodities e a formação de seus preços depende não apenas de fatores internos, mas, sobretudo, de aspectos relacionados ao mercado internacional.
Por outro lado, os preços do arroz e do feijão-preto, que são muito influenciados pela oferta e demanda do mercado interno, registraram aumentos expressivos. O preço do arroz teve um incremento de 31,2% na comparação com a cotação de um ano atrás, passando de R$ 81,06 para R$ 106,35 a saca; o preço do feijão-preto acumulou um aumento de 29,1%, saindo de R$ 224,20 para atuais R$ 289,25 a saca.
Excesso de chuvas, granizos, vendavais e enxurradas, têm provocado perdas quantitativas e qualitativas expressivas para as produções do agro catarinense, gerando incertezas quanto à rentabilidade das lavouras a serem colhidas. É bom lembrar que, tanto os produtos de mercado interno, como os de mercado externo, têm suas cotações influenciadas pelas perdas por problemas climáticos, como aqueles vivenciados com maior intensidade no último trimestre de 2023.
Diante desse cenário, a safra 2023/24 apresenta um quadro desafiador ao agro catarinense, sobretudo a partir do início de 2024. Caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, o fenômeno El Niño tende a alterar padrões climáticos globais. Produtores e técnicos já conhecem os efeitos marcantes provocados pela sua influência, em que a interação entre clima e produtividade agrícola ficam bastante evidentes.
Na cultura do trigo, com a colheita tecnicamente encerrada no Estado, o excesso de chuvas impactou negativamente. A produtividade foi comprometida devido à prevalência de doenças na fase final do ciclo (maturação), levando a uma redução no PH dos grãos das lavouras colhidas. Para a cultura da soja, caso o cenário não se normalize em breve, é bem provável que o atraso ocorrido no plantio possa resultar em diminuição da produtividade média das lavouras, face à redução do período de crescimento e desenvolvimento da planta. Além disso, o atraso no plantio pode coincidir com períodos de maior incidência de pragas e doenças, exigindo mais controle fitossanitário e aumentando os custos.
No caso do milho, tanto a safra de verão quanto a safrinha podem ser afetadas pelo El Niño. Com a proximidade do término do período de plantio da safra de verão, a maioria das áreas tem apresentado desenvolvimento satisfatório até o momento. No entanto, chuvas excessivas têm causado interrupções de operações de plantio, erosão do solo, necessidade de replantios e diminuição de stand de plantas, interferindo nas práticas culturais usualmente empregadas. Nesse sentido, é urgente a intensificação do uso de práticas agronômicas de conservação de solo e água, que possam contribuir para a mitigação dos efeitos prejudiciais causados por eventos climáticos extremos, e desta forma, reduzir os prejuízos econômicos.
Por João Alves – analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, engenheiro-agrônomo e mestre em Agroecossistemas
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